Paralisia Cerebral e avanços da Neurociências
- Bibiana da Silveira dos Santos Machado
- 4 de set. de 2020
- 4 min de leitura
O conceito de paralisia cerebral (PC) é expressado por um distúrbio do tônus, postura e movimento, causado por lesão no cérebro em desenvolvimento durante o período pré, peri ou pós natal.

A lesão não é progressiva, porém as diferentes manifestações clinicas decorrentes da
lesão, podem sofrer intensas transformações ao longo da vida.
A Fisioterapia precoce é importante nesses pacientes, porém a manutenção das atividades ao longo da vida, adolescência, e fase adulta parecem ter um importante impacto para a manutenção da qualidade de vida e na participação do individuo nas atividades sociais e laborais.
De forma geral podemos considerar que uma em cada 500 crianças tem PC. A expectativa de vida para adultos com PC leve a
moderada é apenas ligeiramente reduzida em comparação com a população neurotípica.
Acredita-se em uma redução das funções motoras ao longo da vida, podendo esse
declínio ter relação com a idade inicial de mobilidade de cada indivíduo com PC. Estima-se que as crianças com grau leve de
comprometimento motor, não apresentam importantes declínios funcionais ao longo do
crescimento, em contrapartida, crianças com comprometimentos mais graves atingem sua
melhor função motora entre os seis ou sete anos, apresentando um significativo declínio de
função na adolescência.

O avanço da neurociência propiciou o surgimento de tecnologias aplicadas ao
tratamento de indivíduos com lesão no sistema nervoso, técnicas como a estimulação cerebral
não invasiva vem ganhando espaço na comunidade científica e clínica, estabelecendo-se como alternativa às modalidades invasivas de tratamento, devido à facilidade de aplicação,tolerabilidade e reversibilidade.
Atualmente, a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) são as principais representantes dos tratamentos à base de estimulação cerebral não invasiva.

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é uma das principais representantes dos tratamentos à base de estimulação cerebral não invasiva, a técnica fornece estímulos ao sistema nervoso para que o mesmo possa se reorganizar, ativando novas redes neurais ou maximizando o funcionamento cerebral, enviando informações corretas a periferia para a execução dos movimentos de formas mais funcionais.
Essa maneira de neuromodular o sistema nervoso é, portanto, capaz de induzir neuroplasticidade.

Embora as descobertas atuais não desvendem os motivos dos declínios motores sofridos pelos indivíduos com PC, proporcionar técnicas com embasamento científico e vigilância contínua a estas crianças que se tornam adultos. é fundamental.
Muitos estudos que retratam a evidência das diferentes técnicas aplicadas pela fisioterapia em crianças com paralisia cerebral já foram publicados nos últimos anos, porém, a comunidade, traz ainda a publicação de 2013 de Iona Novak, como um divisor de águas dentro deste processo de reabilitação.

Em tese, a publicação em questão, analisou 64 diferentes intervenções para a PC, destas 24% foram consideradas eficazes, e receberam luz verde no sistema Evidence Alert Traffic Light, utilizado pelos autores, as outras intervenções, receberam conceito ineficaz com luz vermelha, ou luz amarela caracterizando as que precisariam ser melhor analisadas através de melhores recortes metodológicos. Em 2020, o mesmo grupo de 2013, expandiu a revisão, e alguns resultados foram reforçados e novas discussões foram criadas.
A ETCC, nesta última revisão recebeu luz amarela, com uma discussão sobre a necessidade de mais estudos científicos na população com PC para aprofundar e expandir seus resultados positivos, em ensaios com desenhos metodológicos adequados e número de sujeitos de pesquisa superiores aos que foram encontrados na literatura.
Diferente de outras ferramentas de tratamento a discussão em torno da ETCC foi positiva, e a revisão ainda apontou os resultados positivos encontrados até agora.
Em recente revisão dos efeitos da ETCC na população pediátrica, foi observado
melhora do controle postural em indivíduos saudáveis e com comprometimento neurológico, sendo os efeitos com maior impacto após intervenções com estimulação do córtex motor primário (M1), sendo interessante a ampliação das investigações em diferentes populações.
A pluralidade dos ensaios que envolvem indivíduos com PC e a utilização da ETCC, não
detectam diferenças significativa entre os sexos e idade, e o comprometimento motor leve a moderado é o mais frequente nos estudos, sendo as crianças graves excluídas. Até o momento foi demonstrado melhora no nível de mobilidade, benefício potencial no equilíbrio estático, e reforçado a utilização da ETCC como terapia adjunta a Fisioterapia.
Com a aplicação da ETCC anódica, já foram alcançados efeitos benéficos na PC
espástica, em membros superiores, 24 a 48 horas após a aplicação de um protocolo de ETCC associado a alongamentos em cinco sessões, em regiões de dedos, cotovelos e punhos e membros inferiores.
Foram ainda encontrados resultados positivos com a união da ETCC e realidade virtual nas habilidades motoras, cadência e velocidade da marcha, bem como na função motora grossa e mobilidade de indivíduos com PC. Mudanças significativas na plasticidade do córtex motor da criança com PC, com aumento da amplitude do potencial evocado motor também foi evidenciado em estudo.
A maior parte dos estudos clínicos trazem como sujeitos de pesquisa crianças com paralisia cerebral de GMFCS I, II ou III entre 06 e 12 anos. Porém na prática clínica crianças com PC a partir dos 4 anos e com outras classificacoes motoras podem receber e se beneficiar da técnica que pode ainda influenciar em níveis de dor, espasticidade, melhora do sono e outros benefícios.
Em um próximo post, falarei justamente sobre a prática clínica da ETCC em crianças com PC nesses níveis motores!
Fique atento!



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