Desenvolvimento das Funções Executivas
- Bibiana da Silveira dos Santos Machado
- 12 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Na primeira infância, os circuitos das regiões pré-frontais são modificados, esculpidos, consolidados em função das experiências da criança, notadamente aquelas que envolvem interações sociais.
Nas fases seguintes da vida, esses circuitos continuam a amadurecer até o início da idade adulta. Todavia, a formação ocorrida na primeira infância é determinante de todo o desenvolvimento posterior.
Respostas que envolvem algum tipo de planejamento dependem, fundamentalmente, da região pré-frontal do córtex, que são áreas com amadurecimento mais tardio. Assim, não surpreende que crianças tenham reações mais emocionais do que os adultos, como morder ou bater.
Com o desenvolvimento, a interação entre os dois sistemas modifica- se em função do amadurecimento das áreas pré-frontais. O comportamento torna-se mais complexo, sendo influenciado por fatores ambientais e culturais que moldam a formação das áreas pré-frontais. A capacidade de tomar decisões com autonomia, refletir e gerenciar comportamento não é inata e, sim, construída pela criança, a partir de interações sociais adequadas.
Relacionada à habilidade de memória, há a capacidade de bebês, entre sete e nove meses, buscarem objetos que foram visualizados e, posteriormente, escondidos.
Também entre nove e dez meses o bebê poderá realizar planos simples com uma finalidade específica. Assim, por exemplo, ao ver um brinquedo ser escondido sob um pano, o bebê poderá se deslocar até o pano, removê-lo e apanhar o brinquedo.
Quanto ao controle inibitório e à capacidade de manter a atenção, também há sinais de precursores dessas habilidades em bebês.
A partir de seis meses, bebês podem aprender a não tocar em algo.
Entre oito e dez meses, inicia-se a capacidade de manter a atenção apesar de distrações.
Bebês, a partir de nove ou 11 meses, podem inibir a tentativa de alcançar objetos que estejam fora do alcance (por exemplo, um brinquedo atrás de uma porta de vidro). Também uma forma mais simples da habilidade de flexibilidade cognitiva aparece em bebês.
Entre nove e 11 meses, bebês desenvolvem a capacidade de buscar métodos alternativos para pegar objetos que não estão sob o alcance direto das mãos.
Ao longo do segundo ano de vida, enquanto começam a adquirir a capacidade de comunicação por meio da linguagem, as crianças desenvolvem gradualmente as habilidades necessárias para orquestrar processos cognitivos mais complexos.
Nessa idade, as crianças se tornam capazes de atender a pedidos verbalizados, mantêm as instruções verbalizadas na mente e as usam para guiar o comportamento. Em testes cognitivos, crianças de dois anos são capazes de seguir um comando simples, mas tipicamente falham se forem solicitadas duas ou mais regras simultaneamente.
Aos três anos, as crianças podem agir deliberadamente e flexivelmente, de acordo com um planejamento consciente. A capacidade para mudar rapidamente entre dois contextos simples de resposta parece ter início, portanto, a partir desta idade. No entanto, à medida que as regras se tornam mais complexas, as crianças nessa faixa etária demonstram um progressivo aumento na dificuldade em mudar de resposta.
A partir dos quatro ou cinco anos, as habilidades de funções executivas mostram rápida evolução e as crianças são capazes de completar tarefas que requerem maior armazenamento de memória, usando estratégias mais elaboradas que são amplamente difundidas no campo experimental.
Essas mudanças na capacidade da criança de refletir e formular estratégias mais complexas têm implicações para o comportamento da criança em uma diversidade de situações, como a racionalização sobre o certo e o errado, a compreensão de eventos mecânicos, a consideração da perspectiva de outras pessoas e a previsão de consequências.
Há que se ressaltar, a despeito da influência de variáveis ambientais, que cada criança se desenvolve no seu ritmo. Destaca-se que o desenvolvimento das funções executivas está associado à maturação do córtex pré-frontal, e este se desenvolve rapidamente nos primeiros anos de vida.
Assim, interações sociais saudáveis e adequadas, associadas à prevenção e ao tratamento de doenças comuns, são condições que favorecem o desenvolvimento na primeira infância, compreendido como amadurecimento dos aspectos físico, cognitivo e sócio emocional entre zero e seis anos de vida, e também propiciam um desenvolvimento pleno das funções executivas na vida adulta.
FONTE: Funções executivas e desenvolvimento infantil : habilidades necessárias para a autonomia : estudo III / organização Comitê Científico do Núcleo Ciência pela infância. Joana Simões de Melo, et al. São Paulo : Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal - FMCSV, 2016.



Comentários